Consolo na praia
Vamos, não chores.
A infância está perdida.
A mocidade está perdida.
Mas a vida não se perdeu.
O primeiro amor passou.
O segundo amor passou.
O terceiro amor passou.
Mas o coração continua.
Perdeste o melhor amigo.
Não tentaste qualquer viagem.
Não possuis carro, navio, terra.
Mas tens um cão.
Algumas palavras duras,
em voz mansa, te golpearam.
Nunca, nunca cicatrizam.
Mas, e o humour?
A injustiça não se resolve.
À sombra do mundo errado
murmuraste um protesto tímido.
Mas virão outros.
Tudo somado, devias
precipitar-te, de vez, nas águas.
Estás nu na areia, no vento...
Dorme, meu filho.
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Sempre adorei esse poema por ser tão sucinto, sintético, certeiro, em suas quatro primeiras estrofes. Sempre detestei esse apelo ao humour, frente a todas as pequenas tragédias de que trata a poesia. Parecia um anticlímax rasteiro.
Hoje, por caminhos da reflexão que não vêm ao caso aqui, finalmente entendi que só o humor nos salva. Claro, não há nenhuma novidade nisso: não vai haver nenhum arrebatamento, nenhuma revelação, nenhuma anagnórise. Essa é a vida real.
E se umas das poucas coisas que sou obrigada a levar a sério sou eu mesma, é apenas por questão de sobrevivência. Essa, claro, ainda deve ser levada a sério, se escolhemos ficar por aqui.
Hoje, por caminhos da reflexão que não vêm ao caso aqui, finalmente entendi que só o humor nos salva. Claro, não há nenhuma novidade nisso: não vai haver nenhum arrebatamento, nenhuma revelação, nenhuma anagnórise. Essa é a vida real.
E se umas das poucas coisas que sou obrigada a levar a sério sou eu mesma, é apenas por questão de sobrevivência. Essa, claro, ainda deve ser levada a sério, se escolhemos ficar por aqui.