sua luta
vi o tal texto da fernanda torres sobre o feminismo, que causou algum alvoroço nas redes sociais na última semana. e não vi problema nenhum. e não vi porque ela deveria se desculpar, além do fato de ser uma mulher inteligente o suficiente para ser capaz disso. mas fica a questão: porque cobrar engajamento em causas que não são as causas de todos? de fato, algumas mulheres não precisam do feminismo, alguns negros não precisam de movimentos de afirmação, alguns pobres nunca foram vítimas.
achava absurdo ouvir de mulheres brancas, bem-nascidas e bem adaptadas (magras, casadas, com filhos e bem-sucedidas) queixas contra o radicalismo do feminismo ou do feminismo em si. até perceber que essa é a luta desnecessária para elas: nunca tiveram seu comportamento questionado, nunca tiveram o acesso a nenhuma oportunidade barrada, nunca saíram de seus carros para se sentirem inseguras numa rua escura, sempre foram tidas como moças "de respeito" pelos homens que encontraram pelo caminho.
então vem o caso de se colocar no lugar do outro, ter uma visão ampliada que seria um dos objetivos de uma educação bem-sucedida, ou enxergar a alteridade, como diriam os filósofos, para se tornar um se humano mais nobre, e enxergar o sofrimento alheio subjacente a todos esses movimentos. a questão é que todas essas exigências éticas estão em falta, independente de gênero, raça ou classe social. então, poderia começar pelos próprios movimentos afirmativos parar de enxergar qualquer pessoa que queira ser isenta como um opressor em potencial, ou vítimas de uma alienação da qual os engajados estariam a salvo. talvez um exercício de alteridade devesse começar pelos grupos que lutam, que poderiam começar a tentar travar um diálogo, mostrar o outro lado, esclarecer as razões, em vez de atacar histericamente e debochar com agressividade. falta a esses grupos enxergar que as reivindicações em pauta não são óbvias para todo mundo: o feminismo não é razoável para a branca bonita de classe média, cotas raciais não têm sentido para a família negra de classe média baixa que venceu na vida antes dessas ações, existem periferias e periferias, bem menos homogêneas do que os movimentos sociais levam a crer.
achava absurdo ouvir de mulheres brancas, bem-nascidas e bem adaptadas (magras, casadas, com filhos e bem-sucedidas) queixas contra o radicalismo do feminismo ou do feminismo em si. até perceber que essa é a luta desnecessária para elas: nunca tiveram seu comportamento questionado, nunca tiveram o acesso a nenhuma oportunidade barrada, nunca saíram de seus carros para se sentirem inseguras numa rua escura, sempre foram tidas como moças "de respeito" pelos homens que encontraram pelo caminho.
então vem o caso de se colocar no lugar do outro, ter uma visão ampliada que seria um dos objetivos de uma educação bem-sucedida, ou enxergar a alteridade, como diriam os filósofos, para se tornar um se humano mais nobre, e enxergar o sofrimento alheio subjacente a todos esses movimentos. a questão é que todas essas exigências éticas estão em falta, independente de gênero, raça ou classe social. então, poderia começar pelos próprios movimentos afirmativos parar de enxergar qualquer pessoa que queira ser isenta como um opressor em potencial, ou vítimas de uma alienação da qual os engajados estariam a salvo. talvez um exercício de alteridade devesse começar pelos grupos que lutam, que poderiam começar a tentar travar um diálogo, mostrar o outro lado, esclarecer as razões, em vez de atacar histericamente e debochar com agressividade. falta a esses grupos enxergar que as reivindicações em pauta não são óbvias para todo mundo: o feminismo não é razoável para a branca bonita de classe média, cotas raciais não têm sentido para a família negra de classe média baixa que venceu na vida antes dessas ações, existem periferias e periferias, bem menos homogêneas do que os movimentos sociais levam a crer.