Procurei-me nesta água da minha memória
que povoa todas as distâncias da vida
e, onde, como nos campos, se podia semear, talvez,
tanta imagem capaz de ficar florindo...

...

Acabei-me como a luz fugitiva
que queimou sua própria atitude
segundo a tendência do meu pensamento transformável...

Desde agora, saberei que sou sem rastros.
Esta água da minha memória reúne os sulcos feridos:
as sombras efêmeras afogam-se na conjunção das ondas.

E aquilo que restaria eternamente
é tão da cor destas águas,
é tão do tamanho do tempo,
é tão edificada de silêncios
que, refletindo aqui,
permanece inefável.

Cecília Meireles, Medida da significação. Poesia Completa, v. I

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