minha luta, III
Comecei a ler a Ilha da Infância e percebi que, obviamente, o suposto caráter autobiográfico do livro, ou da série, diz respeito mais à tentativa de apreender uma época, ou criar uma vida comum paradigmática, do que recontar a própria vida. O que não deixa de ser uma sacada genial, essa hiper-concentração de experiências cotidianas e problemas-que-todo-mundo-tem que os livros descrevem (ou aquela parte em que, depois de um dia cansativo, o escritor vai até o computador, entra no google earth, ou map, e "viaja" até Buenos Aires, passeia pelas ruas e vai até o estádio de futebol, que tem importância na biografia do protagonista da história). Isso fica óbvio no terceiro livro quando, ao "relembrar" a infância da qual pouco se lembra na verdade, senão pelo que é contado pelos adultos, ele recria uma paisagem e uma infâncias que mescla e contém todas as experiências comuns de uma criança de classe média da Noruega da época, vivendo no interior, filhos da primeira geração do pós-guerra. Tanto que a imagem criada tem um pouco do artificialismo da publicidade, mais do que a autenticidade da memória ou experiência. Enfim, é um livro e uma série cujas propostas vão me fazer pensar um pouco a partir de agora.