solidão, olha a casa é sua
“Mas ainda não basta ter recordações. É preciso ser capaz de esquecê-las quando são muitas, é preciso ter a grande paciência de esperar que retomem. Quando elas se tornam sangue em nós, olhar e gesto, anônimas e indistinguíveis, só então poderá acontecer que numa hora muito rara se levante e saia do meio delas a primeira palavra de um verso.” Rilke
o senso comum que diz que é preciso saber viver na própria companhia para que então seja possível viver com os outros, quanta verdade nesse lugar comum! no fundo, saber viver consigo mesmo diz respeito a quem não se importa de olhar incessantemente para as próprias feridas, masoquistamente, enlouquecidamente mirar o próprio umbigo, e quem se recusa a fazer isso. E, de repente, não poderia ser o caso de finalmente fazer as pazes com a própria solidão? Não poderia ser o caso de, mesmo só, não recair no sem-fundo das lembranças, mal-resolvidos, não se preocupar demais consigo mesma, sua saúde, seus desejos, planos, frustrações, rejeições, ressentimentos, medos? Não poderia ser o caso de não ficar louca e tornar a vida dura, pesada e quase insuportável, mesmo estando só? Poderia ser o caso de não ficar olhando apenas para si mesma, que difícil!, e tocar a vida. Ter calma, saber viver consigo, assim, seria a conquista da própria liberdade.