"Isso não pode continuar"

3. Quando passa a exaltação, fico reduzido à mais simples filosofia: a da resistência (dimensão natural dos verdadeiros cansaços). Suporto sem me acomodar, persisto sem me endurecer: sempre perturbado, nunca desencorajado; sou uma boneca Daruma, um poussah sem pernas em que se dão vários petelecos, mas que finalmente retorna seu prumo, graças a uma quilha interior ( mas qual é minha quilha? A força do amor?) É o que diz um poema popular que acompanha essas bonecas japonesas:
" Assim é a vida
Cair sete vezes
Levantar oito"
BARTHES, Fragmentos de um discurso amoroso. 3 ed. p.133
Estava arrumando a estante quando me deparo com este livro e me pergunto que prateleira ele merece? A primeira prateleira, onde agora devem ficar os não lidos (poucos, e bem menos que eu supunha) e os dignos de uma releitura? Não tinha certeza se esse entraria naquela categoria, não-lidos, porque fragmentos, e poesia, se lê assim, aos pedaços. Abri aleatoriamente e descobri a passagem um tanto 'auto-ajuda', mas que caiu bem hoje. (Mas Barthes não merece a primeira prateleira)
E a constatação dos meus poucos livros não-lidos quase me fez rever a resolução número 2.
Além disso, nessa arrumação, me deparei com uma meia dúzia de livros de teologia que me deixou com um sentimento de equívoco cômico, aquela especialização... E com alguns livros legais, ou não, dos mais variados assuntos, e que eu não pretendo reler.
Hesse eu não sei se vai ou fica, e eu fico me perguntando porque Camus continua lá, em seu lugar de honra e sem perpectiva de ser demovido, há uns 10 anos...Estranho, essas coisas.
Certo é que se eu fosse radical na minha limpeza, na vontade de desentulhar, salvos todos os livros de poesia e quase todos de filosofia, não ia sobrar mais que cinco ou seis nomes... Se bem que se Arendt, Benjamin, Camus, Pascal, hum...pensando bem, tirando os filósofos e poetas, não ia sobrar nem uns três nomes imprescindíveis entre meus livros. Minha estante tá mais pobre do que eu pensava.

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