nada a ver

Tem aquele filme em que o homem com ossos de vidro imagina que deve haver o seu contrário: alguém inquebrável, que nenhum desastre de trem pode causar arranhão. Pois bem, em momentos tristes, sem esperança, sempre imaginei que, se há extremos de infelicidade no mundo, também existe seu contrário. Ou se uma coisa pode ser constante, a outra também. Pode não ter nenhuma lógica, tudo isso, mas pensar assim me ajudou, muitas vezes. Uma espécie de esperança.
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A memória é traiçoeira e grande parte do que ela guarda é inventado, é imaginado, é recontado de outra forma. Dito isso, como ficam as lembranças dos momentos a dois, quando um dos dois é morto? Como confiar na veracidade do que é lembrado? Fala-se tanto em preservar os mortos na nossa memória, mas quem protege nossa memória dos mortos? Pois há o perigo, depois, de toda lembrança ser, um pouco, mentira, sem uma versão que integre a versao dos mortos.
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Os mortos não morrem sozinhos. Aquilo que nós somos, e fomos, morre também, porque morre um olhar, já dizia Drummond. E aquelas velhas lembranças de infancia, que um de nós guarda em seu fundo, como podem ser salvas? Morremos em nossos mortos, que antecipam nosso desaparecimento total.

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