Uma das minhas promessas de ano novo, a mais decidida e madura, foi que eu cuidaria mais de mim. E, olha, como tenho cumprido, para a minha pouca sorte.

Naquele momento isso queria dizer que eu ouviria o meu cansaço, saberia a diferença da preguiça, aceitaria a doença antes de chegar a extremos  - como quando eu tinha quinze anos, acordei para uma aula de piano no sábado de manhã me sentindo mal, culpei a preguiça, vomitei entre o ponto de ônibus e o conservatório algumas vezes e fiz impávida e verde a minha aula manhã afora. Aliás, comportamento típico, que tive por anos e que serviu, se muito, para um colapso aos 18, e um menos grave aos 25. Cansaço. Em casos menos extremos, me levou a trabalhar uma semana com uma infecção terrível na garganta, até que os colegas praticamente me mandaram embora prá casa, pro hospital, para o que fosse, já que o meu rosto já estava deformado e, né, eu poderia contaminar todo mundo. Fiquei afastada 10 dias, dois sem dormir por causa de bronquite, uns cinco sem sair de casa por causa do cansaço.

E, bem, esse ano já me brindou com todas as licenças médicas possíveis. Hemorróidas que evoluíram para fissuras, menstruações com cólicas dignas de adolescentes, vômitos, diarréias, artrose, o rachado do calcanhar que virou uma abertura que fazia pensar se era para arrancar a sola do pé fora. Eu devo estar esquecendo alguma coisa. Ah, sim, claro, o ibuprofeno meio que destruiu minha flora intestinal nesse meio termo - graças a deus existe enterogermina. O psicanalista pensa que essa parte escatológica é parte do processo terapêutico. Tenho minhas dúvidas, mas fico com pena de dizer, simplesmente, que exagerei no ibuprofeno no último mês e nos antibióticos no último ano. A minha chefe, que está no cargo há pouco mais de seis meses, deve achar que sou uma pobre moça adoentada. E, eu frequentemente, penso que esta vida está me matando. Aliás, é onde eu queria chegar. Chegou a hora de dar meia volta, ou um passo além, mas não está claro ainda prá onde.

Prestes a criar o marcador "doença". Mas não, ainda não.

Eu tenho impressão, mesmo, que esse ano ainda não começou.

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