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livros do ano passado:

O coração é um caçador solitário: Um dos livros mais bonitos que li na vida. Não tem nenhuma história especial. Não tem nenhum personagem excepcional. Não tem longas passagens inspiradoras para se grifar. Então, deve ser lido de novo e de novo: é extremamente comovente e humano. A menininha, o dono do bar, o médico negro, o "santo" surdo-mudo, o vagabundo comunista, todos ficam na memória do leitor como se fossem pessoas reais, e tivessem vivido algum vez por perto.

Longe da árvore: outro com impacto emocional forte. aliás, violento. lia alguns capítulos a noite e acordava como se tivesse sido massacrada, cansada daquele cansaço emocional. claro, que há histórias de amor, aceitação da diferença, superação, amadurecimento, todos os clichês bem-intencionados sobre a capacidade de um filho excepcional em qualquer sentido tornar os pais pessoas melhores. mas há histórias de terror, de perdas irreparáveis, violências inimágináveis, e isso é a maior parte do livro.

Retalhos: história em quadrinhos, que é um relato autobiográfico sobre a adolescência do autor. Em resumo, já tinha lido bons quadrinhos, mas esse livro elevou o gênero (certo isso?) a um outro patamar, ao qual só a literatura em prosa tradicional tinha para mim. não tinha noção de que quadrinhos poderiam ter tanta profundidade até agora. O enredo fala de uma família religiosa, cidade pequena, pobreza, adolescência e, claro, primeiro amor. não deve a nenhum relato autobiográfico de qualquer tipo.

A terra e o céu de Jacques Dorme: um dos livros mais estranhos que li em 2015, de uma tristeza e melancolia sem iguais. Narra as memórias de um órfão que cresce durante o stalinismo, em um orfanato cheio de crianças cujos pais são/ foram dissidentes políticos. é estranho um autor contemporâneo ser tão eficaz em narrar tanta solidão e desolação, falando ainda assim de coisas mínimas: brincadeiras de órfãos, uma mulher que envelhece no exílio, livros, memórias.

Um outro amor: segunda parte da saga do Karl Ove, onde o menino virou um homem, e conta da sua rotina, seu casamento, seu relacionamento com outras pessoas. Li a terceira também, mas não gostei.

A língua absolvida: primeiro volume da trilogia autobiográfica de Elias Canetti, tem uma prosa maravilhosa, fluida, agradável e precisa. Nunca parece haver muito exagero, embora saibamos que há, no pai de extrema sensibilidade artística, na mãe intelectual e brilhante, na prima Laurica, no avô pitoresco, nas lembranças dos personagens "orientais" da Bulgária natal.

Textos para nada: veio a calhar em outubro. texto claro e límpido sobre qualquer coisa que parece óbvio, mas como ninguém disse isso antes? É chocante e libertador em qualquer coisa. Enfim, descobri que chamar Beckett de gênio não é qualquer coisa vazia.

Bodenlos: outra autobiografia, dessa vez do filósofo tcheco Vilém Flusser. A linguagem pode irritar às vezes, com o das man heidegeriano transformado em "a gente" isento de qualquer responsabilidade, além de qualquer coisa que passa pela superfície. mas é muito bom, embora quase chato.

Doze contos peregrinos: imaginava que o realismo fantástico fosse uma fase passada da adolescência e não me interessaria mais. Fazia pelo menos uns 17 anos que este livro estava nas minhas pendências e tudo bem não ter lido antes. Aprecio Gabriel Garcia Marquez de outra maneira agora. E continuo ótimo.

Sempre em movimento:  outra autobiografia, que comecei a ler no mesmo dia que o autor morria, ou melhor, na véspera. Foi bem estranho, imaginar que no último dia de vida dele eu estava mergulhada nas histórias de sua infância e juventude, estava revivendo a sua vida em sua plenitude. 

A descoberta do mundo / O livro do travesseiro: livros para se ler aos pedacinhos.

Alejandro Zambra: li os quatro livros publicados no Brasil pela Cosac e o mais famoso é, curiosamente, o mais fraco deles, Bonsai. Só digo uma coisa sobre o resto: o cara é muito bom.

Natalia Ginzburg: Caro Michele e Pequenas Virtudes. Ponto. Essencial.

O que amar quer dizer: deixei pela metade. sexo, drogas, filhinhos de papai, Paris, Nova Iorque, Foucault. Preguiça.

Adendo: Dickens. Tempos difíceis, o livro de Dickens com um final amargo, coisa que nunca imaginaria existir.

Outros: Regras da comida, Pequenas delicadezas, Daytripper, An age of license, Ethel e Ernest, Área de Segurança - Gorazde, Sarajevo, Um livro por dia.

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